Meu
filho,
provavelmente
não te lembras de mim.
Quando nos separamos, ainda não tinhas acordado para a vida
pois eras apenas uma possibilidade que me foi cortada pela
vontade de Deus ou pelas mãos do destino. E Ele sabe o quanto senti por
não te ter conhecido, alimentado, embalado, vestido, dado conselhos, te
visto crescer, amadurecer.
Talvez
Ele tivesse querido me poupar de te ver sofrer ou mesmo, talvez ,não
estivessem reservadas para mim as alegrias, cuidados, tristezas
e emoções que a maternidade
traz às mulheres pois cada uma de nós tem a sua missão a cumprir na
vida.
Mas
quero que saibas, onde quer que estejas, que sempre me lembro de ti e de
tudo que poderíamos
ter vivido juntos.
És a mais querida lembrança que tenho de algo que nunca
chegou a me acontecer.
És o meu lado contido, represado, que nunca pude cultivar, embora eu
tivesse todo o amor do mundo para te cuidar com desvelo.
Sinto
falta das noites em claro que nunca passei contigo, das travessuras que
nunca partilhamos, dos teus primeiros passos, dos teus livros
e brinquedos preferidos.
Sinto falta da primeira palavra que nunca falaste...
será que seria “mamãe”?
não vi teu primeiro dentinho nascer, não te dei o primeiro
banho ou nenhum deles...não te levei à escola e nem fui apresentada a
teus amigos, naquelas festinhas de aniversário
que freqüentarias.
Lembro-me da primeira bicicleta que nunca cheguei a te dar, do
primeiro dia de aula a que não foste, do teu baile de formatura, do teu
casamento e de uma vida inteira que compartilhamos só em pensamento
porque, este sim, é mais forte do que tudo, e te faz viver eternamente
dentro de mim.
Mesmo
assim, desprovida de todas as experiências que poderia ter contigo, e
com todo amor que poderia ter te dado, guardado dentro de mim,
não tenho mágoas ou frustrações.
Sinto –me mãe mesmo que não estejas aqui para me dizer isto e
canalizarei este sentimento maternal para todos os que, sem carinho,
estiverem contando comigo.
Através deles te alcançarei e me sentirei sempre repleta pela tua memória.
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