..E
todo mundo está a espera deste amor fantasia,
com gosto de Disney,
maçã verde e cereja (ah...eu adoro
cereja) ou com gosto de lágrimas
que serão secadas com os lábios
ou com
os olhos aflanelados
de quem tem paixão.
... E todo mundo quer este amor-estrela, que
vai povoar sonhos, encher nossas cabeças de pó de pirilimpimpim,
mas que também vai descer à terra para descascar cebolas,
lavar pratos, fazer compras no supermercado e dar xarope na hora da
tosse...
Todo mundo quer e pouca gente tem.
Todo mundo procura, pouca gente acha... e às
vezes, quando acha,
joga no lixo da primeira esquina.
Só porque correu do trabalho que
pensou que ia dar comprar terra,
adubar e regar para fazer crescer.
Só porque ficou com preguiça de
ter que ouvir blá-blá-blás ou discutir prá
saber o caminho a tomar para dar voltas, sem dar tantas voltas...
ou para saber que música escolher para ser dos
dois, para olhar nos olhos da amada (o) e ver os seus refletidos,
pulando com os peixes prá fora d'água..
Só porque receou ter um elevador na barriga,
bateria de escola de samba no coração.
Porque não quis comprar champanhe no
momento em que o corpo do outro desejava ser taça e não
quis subir na montanha russa
e sacolejar no espaço...
Porque não se aventurou a experimentar
um prazer maior
do que os que já teve, com medo de perde-lo
e não se acostumar com pouco...
Porque não quis tentar ser feliz,
só porque dizem que a felicidade dura
pouco...
E a gente se acostuma com o que aparece no lugar
do amor-maior,
mesmo porque este aí não dá
em árvore.
Engolimos sapos que nunca vão virar
gente, muito menos príncipes e princesas, só porque
dá trabalho de revirar o brejo ou procurar o pé da Cinderela,
para enfiar o sapato velho que temos guardado há tanto
tempo ou para entender
que o mundo é uma grande lagoa
cheia de sapos coaxando fora do tom
e que há que se ter ouvido para escutar
uma nota certa.
Para encontrar o(a) tal namorado (a) temos que
perder o pavor de parecer ridículos, de falar sozinhos, de
rir por nada, de escrever versos doidos e textos sem pé nem
cabeça, de fazer papel de criança, de louco, de bem-te-vi,
de sonhador.. de correr riscos, sair da rotina,
dar cambalhotas e apanhar beijos no pé...
Temos que ser solidários, infantis, amadurecidos,
saber andar na corda bamba, tocar bumbo, ainda que fora de ritmo ,
dar flores,
falar besteiras, entender coisas sérias
e, sobretudo,
não ter medo de viver.
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