N�o
sei porque ultimamente ando t�o triste, pois tirando os motivos que todos n�s
temos atualmente para andarmos meio pra baixo, nada mais me consome.
As doen�as s�o banais, a falta de dinheiro � cr�nica e j� ando
acostumada a ela, mas ainda me alimento bem, passeio de vez em quando, consigo
realizar sonhos b�sicos de consumo, a
fam�lia vai razoavelmente, medito durante a economia de luz e at� descanso um
pouco das lidas do dia, quando me vejo na penumbra, de vez em quando,
me dando ao luxo de sonhar
um pouco com um mundo melhor, onde todos pudessem ter, pelo menos, um
pouco do que eu tenho.
Mas
algo empana a alegria que j� tive e n�o
consigo detectar
o porque desta ang�stia.
Perdi alguma coisa? Talvez sim. A
gente aos poucos vai perdendo a f�, n�o em Deus, que sempre faz algo para nos
mostrar que existe e que nos protege, mas nos homens, que a cada dia andam mais
afastados do seu lado �gente� e mais
pr�ximos de seus pr�prios interesses, cultivando o ego�smo.
Ando triste,
talvez, porque venho sentindo na pele a perda de algumas pessoas que
eu considerava tanto e que se afastaram, ignorando o valor da amizade.
Besteira, alguns me
dir�o...o mundo caminha t�o c�lere, que mal temos tempo de nos desincumbir de
nossos afazeres, quanto mais em nos lembrar de que os outros existem e de
demonstrar-lhes o quanto s�o importantes para n�s.
Mas quando a gente
abre o cora��o para algu�m, espera reciprocidade, n�o para resolver nossos
problemas, mas para nos dar um retorno de algo que estamos dispostos
a lhes dar. Quando este retorno n�o vem, porque nossas ocupa��es do
dia a dia ou nossas manias, cada vez mais ego�stas,
tomam conta de nossas almas, penso que um peda�o de n�s morre um pouco,
uma c�lula envelhece, fenece, perde o brilho e nos tornamos um pouco mais c�ticos,
ilhados em nossos pr�prios mundos, onde dificilmente h� lugar
para a gentileza e para o amor ao pr�ximo.
Ser�
que esperamos demais dos outros? N�o sei. A verdade � que nada na vida foge da
troca - at� o amor que alardeamos dar espontaneamente, quando n�o
correspondido, perde um pouco do seu �lan e da sua for�a. Quando escutamos
seguidamente as queixas dos outros, esperamos que um dia, se precisarmos,
tenhamos um ouvido a postos para nos escutar tamb�m. S� Deus houve nossas
queixas e n�o aluga nossos ouvidos com as dele.
Quando nos apaixonamos, queremos reciprocidades, pois ningu�m vive sem
carinho, ningu�m vive sem demonstra��es de apre�o e quem ama
unilateralmente, um dia cansa de ficar s� e vai procurar um par mais
compat�vel com suas necessidades e car�ncias.
Quero
�s vezes dizer � pessoas que passaram na minha vida e deixaram uma marquinha
que fosse, que isto ocorreu e o quanto eu sou grata por qualquer boa experi�ncia
que me proporcionaram, mas tenho medo de ser mal interpretada. As pessoas n�o
sabem receber sem achar que h� um interesse escuso por tr�s de uma atitude de
doa��o.
�O que ser� que ela quer me dizendo isto? algum favor em troca? Dar em cima
de mim? Me sufocar com cobran�as?�
Ningu�m espera carinho de gra�a, ou quando espera o carinho, como recompensa
de alguma boa a��o e ele n�o vem, surge a frustra��o. Estaremos
fadados a coibir nossos desejos pelo medo de sermos mal interpretados?
H�
tempos atr�s, neste vasto mundo por onde tenho andado, encontrei pessoas que me
tocaram profundamente. Perdi o contato com elas e n�o desejava ou esperava nada
mais do que manter este contato, ainda que esporadicamente, porque senti que me
faria bem, pela alegria ou pelas li��es
que estas pessoas me trouxeram. De uma maneira ou de outra as perdi de vista e
senti esta perda... n�o sei se com elas ocorreu alguma coisa neste sentido. S�
sei, que por omiss�o ou receio de ambas as partes, esta conviv�ncia foi
podada, perdemos o rumo, nunca mais, talvez, ouviremos falar um dos outros.
Tive
vontade de escrever ou telefonar para alguns deles mas n�o sei se isto lhes
causaria algum transtorno. Neste mundo mercantilista, materialista, o que ser�
que eu quereria al�m de saber not�cias: Um
caso? Car�ncia? Problemas? Dinheiro emprestado? Ascens�o social?
Atrapalhar seus relacionamentos novos? Sei l�. Poderiam pensar tudo, sem
acertar com o real motivo e sentirem-se desconfort�veis com isto.
Perguntei a algu�m, a quem eu n�o via h� bastante tempo outro dia e com quem
esbarrei por acaso, como ela ia
passando. Falei da minha preocupa��o por nunca mais ter sabido de not�cias e
fui agraciada com uma pergunta incr�vel e que me deixou pasma: �mas porque
voc� sentiu a minha falta�? fiquei sem saber o que dizer... quando a gente
sente falta de algu�m, ou se importa com algu�m, deve ter um motivo especial,
ou apenas a saudade seria suficiente? Se ela n�o entendeu que tinha me tocado
algum dia, a ponto de eu sentir sua falta, como eu iria explicar?
Vi que talvez houvesse me preocupado com a pessoa errada, para quem os
meus cuidados nunca teriam feito nenhum sentido.
Constatei,
fazendo mais um balan�o de minha vida, de tantos que fa�o a cada ano,
que o mundo mudou muito e que talvez eu n�o esteja preparada ainda para
os novos modelos de vida. Gente centrada, ego�sta, para quem um outro conhecido
significa a oportunidade de mais um contato interessante, um
neg�cio, favores, dinheiro, namorados, casos, sexo... e conseguindo-se
isto, o descarte sum�rio, como se os crit�rios de escolha fossem outros que n�o
a empatia, a vontade de ter algu�m com quem compartilhar nossa vida, nossos
sonhos, nossa amizade.
Poucos
agradecem as gentilezas, cumprimentam, demonstram apre�o e interesse... poucos
nos amam realmente porque encontraram em n�s pessoas dignas, poucos procuram ver
nossas qualidades melhores. Somos o exterior, a beleza, o dinheiro, o que
podemos oferecer em termos de lazer, de sexo moment�neo? Minha av� dizia que, quando o homem quer, d� n� no vento.
Ser� que ningu�m quer amizade, amor, carinho? Ser� que ningu�m quer receber,
dar, trocar, porque um n� no vento
parece algo t�o dif�cil de dar?
Estou
ficando triste, como j� disse, al�m de c�tica...e estou, principalmente,
com muito medo de ficar igual a estas pessoas a quem censuro, que talvez
por n�o terem escutado o eco dos seus apelos, resolveram ficar mudas, colocando
os sentimentos numa gaveta, trancando a sete chaves e se isolando no herm�tico
mundo do �eu sozinho�.
Espero
que algu�m me ache, que me deixe acha-lo, que me d� bom dia, que pergunte como
eu estou, que me diga que o sol est� lindo ou me conte algo de sua vida, n�o
temendo me incomodar, que me pe�a uma opini�o, achando que sou amiga o
bastante para compartilhar de sua vida. Quero sentir que sou importante para
algu�m, assim como tanta gente � pra mim e
que n�o achem que estou querendo tirar vantagem de nada, a n�o ser da
minha vontade de viver mais em contato com um mundo onde as pessoas percebam que
os h� outros habitantes que merecem sua considera��o e que seriam um pouco
mais felizes por este motivo.
By Maria Eug�nia - Doce Deleite